segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

ARRIVA: ENTREVISTA

Finalmente, aqui estou de novo.... ARRIVAJ@RNAL M. AMÉLIA FERNANDES "Poetisa de Arosa" em entrevista ao Jornal "ARRIVA" ARRIVA: QUESTIONÁRIO P. Há mais de 25 anos que escreve. Como nasceu essa paixão? A paixão de escrever nasceu juntamente com a paixão de ler. Cedo, nos bancos da escola, desde a 1ª classe, senti um enorme entusiasmo pela leitura, nomeadamente, pela literatura em verso. Adorava ler e recitar os autores de então: - (António Nobre, Afonso Lopes Vieira, Tomás Ribeiro, António Correia de Oliveira, Bocage (a raposa e as uvas 2ª classe) Maria Lúcia (o destino da árvore) Guerra Junqueiro, João de Deus, Pedro Dinis, Simões Dias), entre tantos outros, que aprendi a gostar e a ler em voz alta, para todos os alunos, a mando da professora. A partir dessa altura, o gosto foi-se apurando cada vez mais. P. Chamam-lhe a “Poetisa de Arosa”. Entre os vários estilos de escrita, é na poesia que se reencontra? “Poetisa de Arosa”, porque nunca usei pseudónimo e, como meu nome não é nada sonante, a imprensa - rádios e jornais - optaram por unir o género literário, à freguesia. Daí, o, “Poetisa de Arosa”, Se é na poesia que me reencontro? Em certo sentido sim. A poesia é uma literatura “doce”, tem musicalidade, fala-nos a cantar, toca-nos/me a alma, o coração. Permite-me ser Eu, “livre”, pelo menos, na forma de me expressar. Ninguém me proíbe os pensamentos! Creio que, se incentivássemos as nossas crianças, desde cedo, para este ramo de literatura, com certeza que, muitos dos poetas não morreriam a mendigar. É preciso saber, ensinar a ler, e gostar de poesia. Não me desviando do assunto: - É na poesia que tento reencontrar-me. Sempre fui uma sonhadora por Natureza. O Bem e o Belo sempre me fascinaram, assim como, o menos belo. O sonho permite-nos altos “voos”. Trepar ás árvores, caminhar nas nuvens, abraçar o oceano, tocar o céu, alcançar o infinito… isso é possível, se tivermos o Dom de querer e saber sonhar. O mais importante que tudo, é conciliar o sonho com a realidade, o que não é fácil. Por isso eu escrevo no meu último livro «Pétalas de meu Ser» algo que termina assim: “Quisera viver no sonho/ sem nunca vir acordar/ a realidade é medonha/não me quero assustar”… P. Sempre soube lutar para conquistar os seus objetivos. Quer partilhar connosco alguns momentos marcantes da sua vida? Penso não ser o saber ou não lutar, que faz com que algo na vida aconteça. Mais que tudo, mais que saber, é preciso querer. E eu queria muito saber! Eu quero continuar a saber, quero continuar a poder “crescer” por dentro. Isso, na minha humilde opinião, é que faz a diferença entre pessoas. Há as que querem e procuram, até conseguir. E, há as que querem, mas que cruzam os braços, ficando impávidas, à espera de que, o que desejam, lhe venha cair no regaço. Essa, sim, é a diferença. Com certeza que, quem deseja dar um pouco mais de “vida”, à Vida, sem dúvida que não pode “adormecer”. Não pode ficar à espera que a noite chegue, e, tranquila, na cama, fechar os olhos e idealizar o que deseja. É preciso levantar, correr atrás, ouvir muitos nãos, mas nunca e nunca desanimarem. Assim sou eu! Apenas Eu! Um ser como tantos outros. Somente tenho procurado viver a vida com alguma euforia, vivacidade; dizia mesmo, algum stress. Algo que me faça sentir viva. Viva e, ao mesmo tempo, Livre! Sentir-me capaz de algo que possa chamar só de meu. Quanto aos momentos marcantes que tenho vindo a registar no meu meio século de vida. Como falar deles? São tantos… Mesmo não incluindo os momentos pessoais, - não é o que interessa, mas sim, o que tem a ver com o meu percurso de vida profissional, nomeadamente, ligado à literatura e aos estudos. Mesmo assim, são bastantes. Não quero saturar o leitor com a minha história de vida, mas também não quero deixar de responder à pergunta. Os leitores que me conhecem, sabem que trabalho desde os nove anos de idade. Aos treze, iniciei a minha actividade profissional, como operária têxtil, a qual exerci durante mais de 30 anos. Pelo meio, nunca havia esquecido o dia em terminei a escola primária (antiga 4ª classe) e chorei porque queria continuar a estudar, mas não havia dinheiro para tal. A minha ilusão de criança, adolescente, aliada à minha forma de olhar o Mundo e tudo o que nos rodeia, e, procurar ver tudo com “olhos de ver”, fez com que eu começasse a divagar, pronunciando em voz alta, palavras, frases sem sentido. Uns chamavam-me louca, outros, serviam-se dessa minha “loucura” para os ajudar; desde escrever cartas de amor, para as colegas de trabalho, a cartas de mães de famílias que tinham o marido ou filhos no estrangeiro. Outros, pediam para escrever uns pequenos discursos, quando vinha alguém importante visitar a freguesia, ou freguesias vizinhas. Alguém, um dia pediu-me para guardar tudo o que escrevia, com, ou sem sentido. Fizeram-me prometer que o faria. Assim comecei a juntar meus rabiscos. A certa altura, pediram-me os meus cadernos e, muito gentilmente, levaram os manuscritos a uma editora no Porto. Nascendo em seguida, o meu primeiro livro: “Ondas de Palavras”. Foi a primeira de muitas surpresas que se seguiram. Desde a publicação do meu primeiro livro eu fui sempre incentivada, apoiada e acarinhada. Tanto pela Imprensa como por pessoas anónimas. Já agora aproveito para agradecer aqui ao sócio e Presidente da Empresa Rodoviária ARRIVA, que, desde o primeiro momento, em que soube do meu percurso de vida, logo manifestou seu agrado, contribuindo com seu generoso apoio para que, eu pudesse continuar com a publicação dos meus livros. Um bem haja para ele e outras pessoas que, de formas diferentes, sempre me apoiaram. E permitam-me acrescentar: - Se o mundo fosse feito de Homens/Mulheres de coração Humano, Generoso, como o do Sr. Manuel de Oliveira e de mais alguns, que ajudam porque sentem necessidade de o fazerem, mantendo-se no anonimato, excluindo por completo a oportunidade de receberem aplausos… Se o mundo fosse feito de Gente como esses, com certeza que todos seríamos muito mais felizes. E não é porque uns podem dar e outros não. Todos nós temos algo para dar, para repartir! Ainda que seja um simples sorriso. Peço desculpa, por me estar afastar do assunto, mas não podia deixar passar esta oportunidade para, através da pessoa do Sr. Manuel de Oliveira, deixar o meu apreço, o meu carinho para outros que, como ele, tem colaborado, não só comigo, mas em outras causas a favor da Humanidade. Lembro quando, aos 49 anos de idade, entrei para a Faculdade de Filosofia, Universidade Católica de Braga, onde, juntamente com jovens de 20 anos, fiz a minha Licenciatura em “Estudos Artísticos e Culturais”. A 18 de Maio de 2005, os professores e colegas de curso quiseram prestar-me uma desmerecida homenagem, mas que muito e muito me emocionou e honrou. Em 24 de Junho, do mesmo ano, também, a Câmara Municipal de Guimarães, condecorou-me com a Medalha de Mérito Cultural. A Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, também já me prestou uma justa ou injusta Homenagem, no dia, em que comemoraram pela primeira vez, o Dia Um, do Concelho, que se festeja a 25 de Setembro. Tendo sido, até à data, a única personalidade pública a merecer esse galardão. Alguns prémios de escolas, desde jardins de infância, ao secundário, bibliotecas municipais, associação, até mesmo da Galiza. Além das ofertas, guardo na memória os belíssimos momentos que com eles vivi. Lembranças muito positivas para mim, as quais continuam a dar-me alento e a certeza de que tem valido a pena todo o meu esforço. Tudo isto, aliado aos quase 30 anos de escrita, sem dúvida que tem marcado a minha vida, pela positiva. Há ainda a referenciar a imprensa, nomeadamente a televisão, e a primeira vez que fui convidada a estar presente num dos programas da manhã, seguindo-se outros…Cada livro que apresento, é sempre mais um motivo de emoção, de regozijo … desculpem! O texto já vai longo. P. Entretanto fez a licenciatura em Estudos Artísticos e Culturais pela Universidade Católica. Essa formação contribuiu para a sua vocação? Quanto à licenciatura em Estudos Artísticos e Culturais, contribuir para a minha vocação, julgo ter sido o contrário: - A minha vocação, o meu desejo de aprender, de quer mais e sempre mais, é que contribuiu para que eu nunca desistisse do sonho de um dia voltar à escola. Claro, que no início, nunca imaginei que pudesse vir a frequentar a Universidade. E, nomeadamente, optar por essa Licenciatura. Estudos Artísticos e Culturais é um Curso muito abrangente e que me “dizia” algo, diz algo acerca da minha personalidade. Acerca da busca que sempre fiz. Aliás, ainda faço. Agora, até com um pouco mais de “sede”, de ânsia do saber. Existe um poema no meu livro “ Flores Para Ti”, no qual eu questiono sobre o que fui fazer para a Universidade? O que aprendi, só serviu para me mostrar o quanto ignorante eu sou! - “ Afinal, o que fui eu aprender, se agora tenho ainda mais a certeza, de que, eu só sei que nada sei?!...” P. Ao longo do seu percurso já publicou várias obras. Há alguma que queira destacar? Porquê? Gosto de todos os meus livros. São todos meus “filhos” e uma mãe que se preza, ama a todos por igual. Pode sim, evidenciar diferenças, qualidades, ou até mesmo defeitos, mas que são características de cada um e por isso, valem pela diferença que possuem. Com os livros é a mesma coisa. Posso referenciar um, apenas, porque teve de ser preparado em menos de um mês. Aquando da homenagem que me fizeram na universidade, um dos professores, Dr. Carlos Morais, perguntou-me se tinha algo preparado para publicar, ou se era capaz de o fazer até certa data. Questionei, mas não me foi dito na altura o porquê. Embora tivesse algo escrito, (como sempre tenho) decidi optar por escrever de novo. Só depois que eu disse que sim, que tinha de conseguir, é que me disseram que era para publicar e apresentar, precisamente, no dia da homenagem. Foi assim que surgiu “Sinfonia de Saudade.” Lembro este, não por ter mais ou menos qualidade que os anteriores ou os que se seguiram, mas sim, pela correria com que foi preciso trabalhar no mesmo. Ainda lembro meu editor, Dr. Barroso da Fonte a entregarmos na universidade, um dia antes da homenagem. Foi lindo! Aquela azáfama toda! Meu Deus! P. De que “falam” os seus poemas? Tem algum preferido? Qual? O tema central da minha obra é sem dúvida o Amor. “Canto” o Amor de todas as formas, cores e sons. Amor amante, amor de mãe, de irmãos, pais, família, amigos. Amor à vida, pela vida. Amor pela Natureza, pela brisa, pelos pássaros. Pela andorinha, o canto do rouxinol, a água que desliza de pedra em pedra, sem rumo, em busca de um local onde possa estacionar. Amor pelo mar, o vale, o verde dos pinhais…os insectos mais insignificantes, ao animal mais robusto e feroz. Amor, quando contemplo as mãos enrugadas de um velhinho, quando reparo no sorriso que esbanja sem querer… amor… amor… amor. É sem dúvida o tema que mais abordo. Mas, o Amor que canto, também se reveste de agressividade, quando as injustiças me ferem a alma, mesmo que não sejam dirigidas a mim. Quando “grito” a opressão, a desigualdade, a fome, a desunião. Mesmo, nesses poemas, aos quais chamo, Poesia de Intervenção, eu abordo o amor. É pela força do Amor que eu escrevo alguns poemas mais agressivos. Há poemas em que me comparo ao insecto mais insignificante, sem defesas, sem meios para me proteger. Mas há outros em que me apresento com uma Leoa alguém em fúria, capaz de mover montanhas. Alguém que, para defender o que lhe pertence, vai à luta, e tudo vence, mesmo que seja à dentada. Quem conhece a minha obra sabe do que falo, e como falo/escrevo: A exploração patronal! O dia do trabalhador! Os direitos das mulheres! Eu? Eu não sou só Amor! Mas é pela força do Amor, que me revolto e escrevo algo menos melodioso. P. Como vê a literatura em Portugal, em particular a poesia? Mal! A literatura está a “morrer”. Se não fizermos algo que mude a mentalidade das pessoas, quando tal, os livros deixam de existir e tudo passa a ser registado numa “coisa” fria, rígida. Algo que não se apalpa. Algo menos pessoal. O livro é um amigo, sempre ouvi dizer isso. Para mim, não é a mesma coisa ler um texto no computador, ou ter um livro na mão. Poder amarrotar aquelas folhas, de raiva, quando o romance não acontece como o imaginávamos no início… desfolhar página a página, apertar contra ao peito, enquanto medito nos últimos parágrafos que termino de ler… Se falarmos de poesia, ainda pior. Por vezes penso que só os poetas lêem e compram livros de poesia. Há que fazer algo, e depressa. Caso contrário, o gosto pela leitura em livro desaparece. P. Se tivesse poderes mágicos, o que mudaria? Quanto a mim, eu só queria voltar a ser criança. Mesmo com fome de pão, descalça, remendada, eu só queria poder ser aquela criança traquina, alegre, sorridente, que trepava ás arvores, rolava no chão, e até com as pedras falava… Respondendo num sentido mais prático: Ai!!! Tanta coisa para fazer! Tanta fome para matar! Tantos corpos para agasalhar. Tanta guerra para transformar em Paz…tanta tristeza para transformar em alegria, em sorrisos, gargalhadas… Sabe? Os bens materiais nunca me “falaram” ao coração. Se tenho um tecto que me abriga, uma cama em que me posso deitar, repousar, dormir tranquila, nunca ambicionei muito mais. Contudo, o que eu faria se tivesse poderes mágico, era transformar este Mundo num Mundo melhor. Um Mundo de Paz, alegria, harmonia. Mas isso, nem os mágicos consegue fazer. Por isso, meus desejos, muitos dos meus desejos, não deixam de ser um sonho. Um sonho, no qual ainda acredito que tudo é possível. Basta um crer: o Nosso Deus! O Nosso Criador. A mim, a nós, basta que deixemos correr a energia do Bem que existe em cada um de nós, e a mesma desabroche, floresça, cresça e se transforme num caudal irradiante de Paz, Harmonia, Felicidade. É isso que eu tento fazer. E como estamos perto do Natal, aproveito para deixar e enviar esta mensagem de Amor e Fé, a todos os leitores deste jornal. Maria Amélia Fonseca Fernandes 13 de janeiro de 2014